quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Post de Despedida + O novo Blog

fim

Vida de blogueiro não é fácil. Quer dizer, pode ser que seja apenas a natureza humana de insatisfação eterna com o que se tem, mas quase nunca é possível falar de tudo o que se gosta com o mesmo espaço. Eu, inexperiente que era no mundo da blogosfera, tentei com um espaço intitulado “Lágrimas na Chuva”, que publicava pequenos textos, opiniões musicais e análises de quase tudo o que passava a minha frente. Eventualmente, a criatividade minguou e a vontade de falar de música tornou esse espaço no Gramophonica.

O primeiro post original do Gramophonica, que também herdou os artigos de música de seu predecessor, data do dia 13 de Maio desse ano, contendo a letra da canção Ironic, de Alanis Morrissette, uma das grandes marcas da música noventista e o maior sucesso da cantora canadense em sua carreira. Uma letra sobre tudo o que poderia dar errado nesse mundo, e sobre como as coisas poderiam ser irônicas na nossa confusa e complexa vida.

Foram-se quarto meses, o blog mudou de template e ganhou a adição de algumas colunas a mais em detrimento de outras, mas a porposta ainda era a mesma no último post, uma resenha do álbum Funhouse, da cantora P!nk. Falar de música como arte pessoal que é, com referências que nem todo mundo poderia identificar e um estilo mais detalhado do que a maioria dos blogs por aí.

Pois bem, valeu a pena. Falei muito de uma das coisas que mais amo nesse mundo, e vocês responderam com a mesma paixão. Como foi bom ler seus comentários. Fiz amigos por causa desse blog, criei contatos que não podem e não vão se perder apenas porque essa parte da minha vida de blogueiro está chegando ao fim. Esses são os últimos parágrafos que serão publicados no Gramophonica, e ainda assim me recuso a achar que estou me depedindo de alguma coisa. Porque a missão ainda continua.

O Anagrama é o nome do blog onde estarão a partir de hoje reunidos meus pensamentos sobre música, somados a outros assuntos que são do meu interesse e, eu espero sempre, do seu também. A nossa conversa não termina por aqui. Nos vemos, sempre.

Os melhores ritmos para todos vocês e até mais!

- “Isn’t it ironic? Don’t you think?”, Ironic – Alanis Morrissette

domingo, 9 de agosto de 2009

P!nk e sua Funhouse – Nunca julgue um álbum pela capa

Pink-Funhouse [Front]

Alecia Beth Moore não é o tipo de mulher que faz o que o resto do mundo espera dela. Vinda ao mundo por obra de uma enfermeira e de um veterano de guerra, a americana de uma cidade pequena da Pensilvânia cresceu e se tornou a representação perfeita de uma geração insatisfeita com a própria imagem e com os limites que a sociedade lhe impunha. Apaixonada por música e desligada de estilos e convenções, Alecia começou sua trajetória, ainda sob o nome de batismo, em uma típica girl band dos anos 1990, alavanca para uma carreira-solo que se provaria dona de introspecção, ousadia e profundidade surpreendentes a cada novo acorde. Do lendário filme de ação Cães de Aluguel ela roubou seu nome de palco, P!nk, e direto do rock adolescente veio o repfescante M!sundaztood, um raro sucesso de qualidade que a qualificou para alçar vôos mais altos em outros dois álbuns de ambição e acerto exponenciais. Primeiro, mostrou seu verdadeiro rosto de roqueira barra-pesada no divertido Try This, e em seguida fez questão de lembrar que sabia construir melodias complexas no arrebatador I’m Not Dead. E depois veio Funhouse. Se me permitem acelerar um pouco as coisas, o quinto álbum de estúdio da cantora é todo baseado num tipo de propaganda enganosa que é bem recorrente entre os artistas que gostam de surpreender seu público. Tudo, da capa debochada ao título, que lembra aos grandes circos ianques, leva a crer que Funhouse é mais uma pérola de diversão levada pelo swing eletrônico que aparentemente dominou as paradas roqueiras do mundo inteiro. Basta dizer que o título original pretendido pela cantora seria Hearthbreak is a Motherfucker, e boa sorte ao tentar traduzir isso, para definir bem melhor o que é o álbum. Tudo começa a ficar mais claro quando é sabido que as letras, bem ao estilo intimista e confessional da cantora, foram escritas em uma época turbulenta de separação amorosa. Ou talvez seja melhor a própria P!nk explicar sobre o que é sua obra por baixo de todo o verniz sarcástico: “É sobre quando a caixa em que você se prendeu não te suporta mais. Então ponha aquela p**** abaixo e comece uma nova!”.  É, soa bem como coisa daquela americana que aprendemos a ouvir.

De essencial mesmo para entender e saber o que esperar de Funhouse temos as cinco primeiras faixas, espécie de surpreendente introdução a um disco que consegue ser melancólico e ter o swing citado no parágrafo acima a um único tempo. Bom exemplo disso é o primeiro hit e faixa de abertura, So What (I got a brand new attitude/ And I’m gonna wear it tonight/ I wanna get in trouble/ I wanna start a fight), grito de reafirmação levado todo por um contagiante riff de guitarra e excepcionalmente criativo em um ritmo oscilante que não é exatamente o que se espera hoje em dia de um mega-hit, até hoje o maior da cantora em terras nativas. O verdadeiro poder de P!nk em criar música pessoal e envolvente surge mesmo, porém, em Sober (I’m safe, up high, nothing can touch me/ So why do I feel this party is over?/ No pain inside, you’re like protection/ But how do I feel this good sober?), dona de letra quase constragedora de tão intimista e marcada por sutis toques de orquestra em uma melodia carragada toda por um ritmo acertado de bateria, enquanto a cantora destila seu potencial vocal em um refrão de arrepiar e fazer cantar junto. No final das contas, P!nk não precisa ser universal para ser envolvente, e é essa qualidade tão incomum e saborosa que faz da diminuição de ritmo em faixas como I Don’t Believe You (No, I don’t believe you/ When you say don’t come around here anymore/So don’t pretend to not love me at all) não uma anti-climática freada de criatividade mas sim uma escolha perfeita para o lamento esperançoso e melancólico de uma letra que é capaz de traduzir as angústias e desejos de qualquer separação amorosa. Isso sem contar o show de vocal que a cantora consegue entregar quando se vê livre da parafernália roqueira. Se por um lado P!nk é uma pérola quando faz o gênero simplista, por outro há toda a maestria instrumental de uma música como One Foot Wrong (All the light are on, but I’m in the dark/ Who’s gonna find me? Who’s gonna find me?/ Just onde foot wrong/ You’ll have to love me when I’m gone), música cheia de sutis influências do country americano sem com isso sair do esquema melódico e ritmado que marca todas as músicas de Funhouse. Utilizando-se com sabedoria de sons artificiais com os quais tantas cantoras pop de persem, P!nk contrói uma faixa que leva o ouvinte tanto no ritmo quando na letra descritiva e intrigante que carrega certas interpretações subjetivas. Mais uma vez nas palavras da cantora: “É uma música sobre como é fácil perder o controle sobre vida que levamos e nossa forma de lidar com nossos problemas”. Se essa é a mensagem mais desligada do insólito tema principal do álbum, então cabe a Please Don’t Leave Me (Please don’t leave me/ I always say how i don’t need you/ But it’s always gonna come right back to this/ So, please don’t leave me), dona de ritmo crescente sem perder o ponto e talvez o resumo mais competente e suscinto de todo o sentimento que impregna o álbum, da melancolia a vontade de começar algo novo. Há algo sobre mudanças, toques de pura súplica no refrão simbólico e até uma quebra de ritmo que faz todo o sentido do mundo quando inserida no contexto. Em suma, é a criatividade natural da cantora em plena e sensacional forma. E é tudo o que é preciso para passar por cima da propaganda enganosa e se apaixonar por Funhouse.

As faixas complementares são puramente reforço de um conceito quase acidental que se estabeleceu e produz mais momentos memoráveis especialmente na faixa-título, Funhouse (This used to be a funhouse/ But now it’s full of evil clowns/ It’s time to start the countdown/ I’m gonna burn it down, down, down), virada definitiva na vida e no disco da cantora, marcação perfeita para um momento de pura libertação e aceitação de uma nova situação. Cheia do sentimento que P!nk definiu como o ponto principal de seu disco, a música é pura diversão com mensagem, levada por guitarra e baixo bem marcados e sonoridade que não precisa ser complexa para ser criativa. Suposta preferida da própria cantora, Crystal Ball (Fortune teller that says/ Maybe you’ll go to hell/ But I’m not scared at all/ Of the cracks in the crystal/ The cracks in the crystal ball) é instinto musical ao quadrado em sua levada acústica sem muita inovação que, ao lado do backing vocal estratégicamente colocado, deixam a voz e a mensagem de auto-afirmação de P!nk soar mais alto. Por fim, Mean (How did we get so mean?/ How did we just moved on?/ How do you feel in the morning when it comes around and everything’s undone?) traz de volta as influências country para uma canção que deixa marcas no que pode ser o refrão mais contagiante desde muito tempo e ainda carrega com leveza uma letra que poderia ser depressiva. Qualidade essa que só é mais acentuada na faixa de fechamento do álbum, Boring (If you want me/ You’re gonna have to catch me/ If you wanna touch my whoa-oa-oa), talvez a faixa mais pesada do álbum, que deixa no ar se realmente pretendia ser uma paródia de tudo o que faz sucesso no pop atual ou simplesmente se tornou isso sem querer de uma letra mais sobre quebrar regras do que segui-las. O fato é que, sendo clara ou deixando sua mensagem para a imaginação do ouvinte, P!nk é uma das poucas em atividade que consegue passar por cima de uma propaganda enganosa sem irritar críticos ou abaixar as vendas. Funhouse chegou ao segundo posto da parada da Billboard, e foi campeão por semanas seguidas entre os britânicos. Prova de que criativiade e personalidade ainda são bens bem valorizados no meio musical. Falando sobre quebrar corações ou não, a verdade é que a música de P!nk é conquistadora não apenas por ser competente, mas principalmente por ser sincera. Falando dos seus problemas e criando seu mundo, ela consegue dizer mais do que muita banda politizada por aí. Afinal, já estava mesmo na hora de colocarmos a p**** da nossa prisão particular abaixo.

Pink-Funhouse [Back]

OBS: Essa é a terceira vez que tenho que repostar esse texto, dessa vez retirei os links para download, que não aparecerão mais por aqui mesmo. Recebi ontem um e-mail do Blogger dizendo que a IFPI (International Federation of the Phonographic Industry) denunciou este conteúdo por violação de direitos autorais. Como isso pode causar problemas tanto para mim quanto para os leitores, achei melhor abolir de uma vez os links de download.

The download links are banned from this blog. If the problem is something else, please forgive me, I’ll get it right in a moment. Thank you”

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tempo e Música – O Killers de “Sam’s Town” e o de “Day & Age”

Tempo. Matéria misteriosa, engrenagens eternas que se movem impiedosamente sem se importar com o que acontece em um mundo terreno que é fugaz e ainda mais misterioso para a limitada mente humana. Não podemos sequer entendê-lo, que dirá manipulá-lo ao que chamamos de nosso favor em um julgamento que nem sempre ou quase nunca é o correto. Se não pode vencê-lo, junte-se a ele. É o que todos nós fazemos a cada dia, vendo o tempo passar e se furtando, talvez sabiamente, de pensar o que poderia ter saído de melhor a cada segundo. E eles se transformam em minutos, horas, dias, meses, anos… uma vida. Quando surgiu em 2002 com a bomba atômica musical Hot Fuss, o The Killers não entrou para a lista oficial de 1001 bandas que você precisa ouvir antes de morrer por acaso. O quarteto de Las Vegas tinha balanço pop, criatividade nos ritmos pesados e uma composição competente de letras confessionais entoadas com pretensão mal disfarçada pela voz insuspeitamente poderosa do vocalista Brandon Flowers. Se de fato, como os críticos diziam, o The Killers pretendia se tornar o U2 do futuro e ganhar o almejado título de “maior banda do mundo”, Hot Fuss foi um primeiro passo acertadíssimo.

 

A primeira obra dam banda provocou tanto barulho, aliás, que apenas dois anos depois a pretensa “banda do século” retornou com Sam’s Town, uma espécie de ópera-rock levada por músicas que mantinham o balanço pop do primeiro álbum mas soavam de alguma forma uma evolução musical, quase como uma nova fase, disfarçada de mais do mesmo, de uma banda que só sabia crescer. Havia obras-primas, potenciais hinos do futuro, tudo levado por letras que de repente saíam da atmosfera puramente pessoal de auto-gozação do primeiro álbum para poder dizer algo não apenas sobre aquela voz marcante que entoava as palavras, mas sobre tudo que estava a sua volta. Especialmente depois das três faixas que davam início ao álbum, uma tentativa meio improvisada de mostrar que o Killers também sabe contar uma história complexa, tínhamos, quase em seguida, pelo menos um quarteto de músicas não menos que brilhantes, que representavam mais do que perfeitamente um álbgum cheio de potencial. Primeiro, For Reasons Unknown (With one deep breath, and one big step/ I move a little bit closer, I move a little bit closer, I move a little bit closer/ For reasons unknown), dona de uma letra narrativa que servia como uma luva para qualquer ser humano que já se viu diante de uma decisão difícuil e seguiu o instinto até perceber que, talvez, fosse melhor pensar um pouco melhor antes do tempo se esgotar. Isso sem contar que havia guitarras pesadas manipuladas com sabedoria e um ritmo que ia do calmo ao alucinante com a mesma desenvoltura. Depois, logo depois, tínhamos o hit Read My Mind (The good old days/ The honest man/ The restless heart/ A promised land/ A subtle kiss that no one sees/ A broken wrist/ The big trapeize), para muitos á música mais metafórica e deliciosa de se ouvir do século, uma obra-prima de sons artificiais misturados com a mais pura e prazeroza viagem musical dos últimos tempos, tudo embalado pro uma letra que talvez defina o ambiente urbano da forma mais sincera e poética desde muito tempo. Bones (Don’t you wanna come with me?/ Don’t you wanna feel my bones on your bones?/ It’s only natural) vinha então para trazer um pouco do clima vagabundo de Vegas em uma música cheia de seus modismos e da energia que podia fazer falta aos que se apegaram demais a sonoridade do primeiro álbum. Enfim, é uma inserção sábia de punch em um álbum que precisava desse respiro de espírito para continuar em seu som particular, talvez até único. Para fechar o quarteto vitorioso, My List (Let me wrap myself around you/ Let you show me how I see it/ And when you come back in from nowhere/ Do you ever think of me?) era muito provavelmente a balada-rock mais criativa e surpreendente do século, começando com uma levada em piano e chegando ao clímax em um refrão que não forçava a velocidade, mas tinha um novo e fascinante andamento com a letra cheia de questionamente como quase todas do Killers. Não que o álbum se resumisse a essas quatro músicas, mas elas talvez definam bem Sam’s Town, um álbum produzido pelo Killers mais maduro e mais melódico que podia, sim e sem dúvidas, conquistar o mundo. Premiado no BRIT Awards, porém, o álbum provocou divisão entre os críticos e ódio mortal nos fãs das banda que esperavam mais do mesmo e receberam uma evolução. Tudo acabou consipirando para uma venda abaixo do esperado. O destino pode ser cruel, mas o tempo continuou a passar.

 

Mais dois anos e alguns meses matutando uma forma de voltar ao início como os fãs queriam sem deixar de ser aquela banda cheia de idéias que se tornaram em Sam’s Town, em novembro último o Killers retornou a cena que quer dominar no futuro com um álbum inesperado, que foi lançado sem muito alarde para simular a discrição da primeira obra da banda. Day & Age é como o retorno daquele tipo de vilão megalomaníaco que pretende dominar o mundo e nunca vai se deixar derrotar, mesmo que as porradas venham de todos os lugares possíveis. O que se via era uma banda em busca de um equilíbrio difícil de alcançar, que tentava ser mais acessível para um público jovem mesmo sendo diferente de tudo o mais que tocava nas rádios mais populares por aí. As letras agora se dirigiam, mais do que a qualquer ser humano que queira viver a vida plenamente, a uma faixa mais perdida e com mais vontade de simplesmente abandonar tudo. Havia conselho, havia descrição pelo que era e havia hinos de descompromisso que rimavam mais do que perfeitamente com uma nova e antiga geração que não pode mais fugir do que é e encontra na música seu grito mais forte. O Killers transformara a si mesmo em um veículo como tantos outros, diferenciado pelo arsenal musical, pela sonoridade bem escolhida e pela pura sabedoria na hora de dosar dois lados quase distintos. E o quarteto nunca foi melhor. Abrimos com a excepcional Losing Touch (I ain’t in no hurry, you run and tell your friends/ I’m losing touch/ Fill their heads with rumors of impending doom/ It must be true), logo de cara uma explosão de guitarras indefiníveis e refrão capaz de entusiasmar sem forçar na aceleração ao carregar peado no ritmo frenético. É a pura demonstração de uma banda que sabe o que fazer com a própria criatividade, e a segunda faixa, a maravilhosa Human (My sign is vital/ My hand are cold/ And I’m on my knees/ Looking for the answers/ Are we human?/ Or are we dancers?) versa sobre tudo que há de mais lindo e mais angustiante em ser falho e ser humano de forma poética, carregada de metáfora inesquecíveis e sons artificiais usados com sabedoria impressionante por um produtor que parece estar mais inspirado pela criatividade explosiva da banda que tem nas mãos. Logo em seguida, Spaceman (The star man says it ain’t so bad/ The dream maker’s gonna make you mad/ The Spaceman says “Everybody look down!”/ It’s all in your mind), pura viagem musical com suas guitarras bem marcadas levando um refrão perfeito para qualquer um soltar a voz e entoando palavras que podem não fazer sentido em uma interpretação simples, mas tem todoum significado especial no momento e no calor de uma compreensão quase instintiva. Já que citar todas as faixas especiais de um álbum tão pulsante seria impossível e talvez até enfadonho, não custa nada dizer rapidamente que temos um balanço inesperado na poética sem ser chata Joyride (When your hopes and dreams lose the will to go/ Joyride/ Reaching for the light/ Knowing we can’t win), levada toda por dedilhadas quebradas e um vocal carregado de ecos que só dão mais força para uma letra bem construída. Por fim, também é impossível deixar de citar o “conto de fadas da terra empoeirada” que o Killers nos faz questão de contar em Dustland Fairytale (Out here the dreams all hide/ Out here the wind don’t blow/ Out here the good girls die/ And the sky moves slow), uma combinação mais do que perfeira de ritmo levado todo pelo piano bem marcado e o peso de uma guitarra dando punch a um refrão que não é verdadeiramente um refrão e ainda assim marca na memória mais do que tantos outros por aí.

 

Depois de outras seis inesquecíveis músicas, é impossível não notar o quanto o tempo, esse inexorável inimigo que parece parar para ouvir a criatividade de uma banda que está indiscutivelmente, independente de críticas ou de vendas, a se tornar a maior, e a melhor, do mundo. Se Brandon Flowers quer nos conquistar para nos tratar como apenas mais um em uma multidão arrebanhada por música nova, pulsante e cheia de personalidade, o que nos restra senão aplaudir? Que o tempo continue fazendo bem, e muito bem, aos humanos dançarinos do Killers e que eles continuem a nos fazer descobrir quem somos nós de verdade, ou pelo menos nos ajude a perguntar isso a nós mesmos. Para assassinos que tocam e cantam, até que eles tem ajudado muitas vidas e merecerem esse nome.

 

Link para Download - Sam's Town - Mininova.org

Link para Download - Day & Age - Mininova.org

 

terça-feira, 14 de julho de 2009

Álbum: 21st Century Breakdown – Green Day

Green Day-21st Century Breakdown [Front]

Há quem acredite que o cerne de todo punk que se preze é habitado apenas por drogas e violência das mais assustadoras, tudo ao ritmo frenético das guitarras pesadas que se tornaram a marca da música que tornou a “tribo” conhecida em todo o mundo por volta das décadas de 70 e 80. Não que algum deles esteja preocupado em provar que tudo isso aí em cima está errado, é claro, mas é bem verdade que poucos estilos musicais conseguem ser tão críticos, impactantes e influentes em matéria de política, economia e sociedade do que o punk-rock. Veja os californianos do Green Day, por exemplo, que surgiram para o mundo no meio da onda neo-punk dos anos 90 e foram rankeados ao lado de gente do naipe de Offspring como as bandas mais bem-sucedidas da década. O novo século e a era Bush, porém, chegaram para derrubar o som até então descompromissado do trio com um par de discos mal-sucedidos comercialmente. Quatro anos de silêncio depois, o Green Day ressurgiu com o surpreendente American Idiot, uma ópera-rock e um tapa na cara de quem ainda acreditava no bom senso da Casa Branca, um disco que muita gente ousou chamar de marco inicial do polêmico movimento emocore. O visual dark do vocalista e as baladas de levada tranqila alternadas com refrões carregados de fúria podem até ter sido uma forte influência para My Chemical Romance e Fall out Boy, entre outros, mas a verdade é que, em termos de música, todos eles tem muito o que aprender com os mestres, e não há prova mais sólida disso do que 21st Century Breakdown, um tiro certeiro nos hábitos nem um pouco saudáveis da sociedade consumista em que vivemos. Drogas? Violência? Talvez nas ruas, mas o que o Green Day quer mesmo é mostrar o quanto somos idiotas, americanos ou não, nas mãos de quem nos manipula.

 

Bem ao estilo ópera-rock do álbum anterior, 21st Century Breakdown abre com Song of The Century (They're playing the song of the century/ Of panic and promise and prosperity/ Tell me a story into that goodnight/ Sing us a song for me), uma introdução de menos de um minuto levada em ritmo de canção de ninar pela voz amansada e inconfundível de Billioe Joe Armstrong, apoiado apenas por espertos sons de estática que remetem diretamente a letra narrativa e concisa. Um início perfeito para um álbum que se revela cheio de suas sutilezas, tanto que é mais do que necessário ter em mente que 21st Century Breakdown é na verdade mais do que um disco. É uma narrativa completa, dividida em três partes, sobre um casal de jovens americanos tentando lidar com tudo o que há de mais lindo e mais opressor na sociedade consumista em que nos transformamos. Complexo demais para você? Então melhor parar na faixa-título, 21st Century Breakdown (21st century breakdown/ I once was lost but never was found/ I think I’m losing what’s left of my mind/ To the 20th century deadline), que marca a apresentação de Christian, a parte masculina do casal protagonista, um rebelde perdido em meio a incertezas e pressões externas que serve de espelho perfeito para quem viu o século novo nascer e o mundo mudar em meio a seu próprio momento de transformação. É também o começo da primeira parte, Heroes and Cons, e uma música cheia de suas flutuações de ritmo, levadas pela guitarra sempre firme e pela voz quase lamuriante de Armstrong, espcialmente no final estiloso, daqueles de causar arrepios. Em seguida, o hit Know the Enemy (Silence is the enemy/ Against your urgency/ So rally up the demons of your soul), que abandona o lado puramente pessoal para passar uma mensagem universal de auto-conhecimento e observação do mundo, tudo levada com energia contagiante. Quase um tipo de resposta a tamanha pegada é Viva la Gloria (Gloria, where are you Gloria?/ You found a home/ In all your scars and ammunition/ You made your bed in salad days/ Amongst the ruin), grande candidata a melhor do álbum, uma balada bela e surpreendente que atinge com força por mostrar um lado diferente do Christian que conhecemos na primeira faixa, e de uma hora para a outra a música do Green Day se torna tão envolvente quanto qualquer filme ou peça de teatro. É bem verdade que Before de Lobotomy (Life before de lobotomy/ Christian sang the eulogy/ Sign my love a lost memory/ From the end of the century) erra ao colocar uma letra bem montada em meio a um arranjo um tanto frenético e equivocado, mas isso não diminui o impacto de sua mensagem. É o começo do fim para o protagonista, e Christian’s Inferno (I got under the grip/ Beetween this modern hell/ I got the rejection letter and it was already ripped to shred) acelera o ritmo para mostrar um trágico e apocalíptico arranjo narrando um momento negro dessa nova sociedade. Isso sem contar que o refrão é no mínimo viciante. A última parte do primeiro tomo de um disco completo começa (literalmente) com ecos de sua antecessora, mas surpreende com uma levada lenta e acertada. Last Night on Earth (I walked for miles till I found you/ I’m here to honor you/ If I loose it all in the fire/ I’m sending all my love to you) soa como uma música de Elton John com o tempero de uma história acompanhada desde a primeira faixa. Em resumo, é o fim mais dramático e fascinante que uma ópra-rock jamais teve.

 

A segunda parte do disco, intitulada Charlatans and Saints, retoma um lado mais universal do Green Day desde a primeira faixa, a pesada e marcante East Jesus Nowhere (A fire burns today/ Of blasphemy and genocide/ The sirens of decay/ Will inflitrate the faith fanatics), um futuro hino de protesto que pode se tornar o maior grito de indignação de uma geração que encontra na música de bandas como essa sua voz mais pública. E se o Green Day compôs seu hino definitivo na faixa de abertura de sua segunda parte é porque a criatividade e o estilo dominam cada acorde da guitarra da banda e o poema de seu protesto o torna único, mais do que simbólico e sólido como uma rocha. Os acertos continuam num ritmo bem perto do alucinante em Peacemaker (Well, I’ve got a fever/ A non-believer/ I’m in a state of grace/ For I’m the ceasar/ I’m gonna sieze the day), espécie de hit levado por guitarras acústicas e ritmo perigosamente perto do country, tudo no clima de palanque do entretenimento (sempre no bom sentido) que impregna toda a segunda parte do álbum. Por sua vez, o posto de ritmo mais dançante do álbum, algo incomum para o punk do Green Day, vai para Last of the American Girls (She’s a runaways of the establishment incorporated/ She won’t cooperate/ She’s the last of the american girls), dona de uma letra desciritiva que diz muito mais do que boa parte dos hinos emocore por aí e de uma guitarra marcada com precisão o bastante para criar um ritmo cheio de punch sem precisar acelerar as coisas para além do necessário. Emendada nesse espírito, mas nem tão acertada, Murder City (Desperate/ But not hopeless/ I feel so useless/ In the Murder City) é curta, tem uma letra consisa e arranjo enérgico, mas não consegue o mesmo envolvimento na mensagem que suas companheiras de narrativa. Em compensação, a teatral Viva la Gloria (Little Girl) (Little girl, little girl/ Your dirty liar/ You’re just a junkie/ Preachin in the choir) pode até carregar repetição no título, mas é um primor de surpresa e fascinação, impregnada por um piano marcado a perfeição e guitarras pesadas que formam uma mistura deleitosa para os ouvidos, mesmo que a letra retrate decepção e raiva. É o retorno de um foco mais pessoa a uma história que começa a voltar a se desenvolver. Restless Heart Syndrome (Somebody take the pain away/ It’s like an ulcer bleeding in my brain/ Send me to the pharmacy/ So I can loose my memory) fecha a segunda parte da ópera sem tanta pompa quanto era de se esperar, passa perto de ser uma devolução para a sonoridade incompleta de American Idiot, mas isso não lhe tira o mérito de uma letra poética, hinótica e carregada de sentimento, mesmo que apenas uma parte dele atinja o ouvinte.

 

Por fim, a terceira e mais curta parte é Horseshoes and Handgrenades, final bem armado para um disco que rende muito envolvimento e pelo menos meia dúzia de músicas inesquecíveis pelo caminho. A primeira das quatro últimas músicas leva o mesmo título de sua etapa na história, e Horseshoes and Handgrenades (Maybe you’re the runner up/ But the first one to lose de race/ Almost only really counts in/ Horseshoes and hand grenades) acerta em cheio com a sonoridade mais pesada de todo o álbum e uma revolta aparente em cada acorde das guitarras raivosas e na voz surpreendentemente rouca de Armstrong. The Static Age (Music to my nervous system/ Advertising love and religion/ Murder on the airwaves/ Slogans of the brink of corruption) não é tão feliz em suas guitarras-padrão e refrão de ritmo quebrado, e ainda guarda a mensagem mais superficial de todo o álbum, quase deslocada em sua crítica a música moderna em meio a contextos tão universais. É um protesto pessoal para a banda que quebra o ritmo da trama principal, posta de volta a voga no hit 21 Guns (Does the pain weigh out the pride?/ And you look for a plce to hide?/ Did someone break your heart inside?/ Your in ruins), um hino anti-bélico que pode tanto ser interpretado em seu contexto apoteótico quanto na história pessoal de um relacionamento caindo em pedaços. É uma metáfora sofisticada, complicada e impactante, que marca uma das baladas-rock mais criativas e belas dos últimos tempos. Mais complexa é American Eulogy (Red alert is the color of panic/ Elevated to the point of static/ Beating into the hearts of the fanatics), uma música dividida em duas partes claras e acertadas que seguem em ritmo frenético e fascinante para resumir quase toda a mensagem de um álbum repleto dela. Isso sem contar que as guitarras são usadas com sabedoria e não há um refrão assobiável, mas quase enlouquecedor. Por fim, See the Light (I just wanna see the light/ And I don’t wanna loose my sight/ I just wanna see the light/ I need to know what’s worth fighting for) fecha o álbum com os mestres do ritmo mostrando toda o seu repertório em uma música carregada de tudo o que soou mais alto no restante do álbum. Há sentimento, há protesto, há significância e há música das melhores. Tudo o que aqueles no começo do primeiro parágrafo menos esperariam de uma banda punk. Junte-se a eles e descubra como o novo século vai cair em decadência. Afinal, não custa nada ouvir um som dos bons no fim do mundo.

Link para Download - Mininova

Green Day-21st Century Breakdown [Back]

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