terça-feira, 12 de maio de 2009

Sobre AC/DC, shows e bandas que “voltaram”

 

Acho que não posso me dizer um fã de AC/DC, mas acho também que basta gostar de rock para saber reconhecer um show de verdade. Do pouco que vi dessa banda australiana em seus tempos áureos, lembro-me bem dos clipes exagerados característicos da época e da performance explosiva, cheia de estilo e que explodia um público em poucos segundos de performance em palco. Mesmo quando apareciam tocando nos vídeos, eles transmitiam uma energia que ia além da música para se tornar um espetáculo completo e delicioso de se assistir. Em suma, o AC/DC era a tradução mais perfeita do verdadeiro espírito rocker. As músicas podiam soar iguais sempre e nunca fugir de um certo padrão, mas a garantia de diversão era o que mais marcava na banda.

 

Oficialmente, o AC/DC nunca se separou, apesar de boa parte da mídia assinalar a recente popularidade da banda como um “retorno”. De 1973, quando o disco High Voltage explodiu na terra dos cangurus e levou a banda para o mundo inteiro com hits do naipe de “It’s a Long Way to The Top” e “T.N.T.”, até hoje, o som explosivo e puramente rocker da banda continuou a tocar intacto através de 35 anos de estrada. Mesmo enfrentando a morte do vocalista Bon Scott em 1980, o AC/DC seguiu em frente com o carismático Brian Johnson nos vocais e chegou ao auge da popularidade com Back in Black, um dos discos mais vendidos da história, lançado justamente em 1980. Daí para frente, a banda seguiu com gravações cada vez menos populares até 2000, quando Stiff Upper Lip decepcionou nas vendas e fez a banda se utilizar do famoso recurso “dar um tempo”. Foi só oito anos depois, com o furacão Black Ice, que o AC/DC voltou com tudo aos palcos e fez uma das turnês mais lucrativas do ano.

 

Depois dessa pequena pílula sobre a história da banda, vamos aos fatos: o AC/DC não é o mesmo em um palco. Sei que estou correndo contra a maré, mas minha testemunha é ocular. Ontem, sexta-feira, 09 de Maio, a MTV Brasil exibiu em seu programa “World Stage” a apresentação que o grupo fez em Madri para milhões de pessoas. No repertório, todos os clássicos da banda e as músicas já bem conhecidas do novo álbum. Resolvi dar uma chance ao show, mas a única sensação que pude manter depois de “Back in Black” soar no palco é que tudo é planejado demais nos dias de hoje. O show do AC/DC ainda é um espetáculo, mas é um de passos marcados e encaminhamento previsível. É quase como se, no palco, a banda fosse a promessa de uma bomba atômica que explode com a força de uma granada de mão. Da abertura com o maior hit, passando por “Highway to Hell” e “Hells Bells”, o show só pega fogo do jeito que promete em algumas passagens em que a participação do público é evidenciada, especialmente em “Dirty Needs Done Dirt Cheap”. Mas aí estamos falando do show dos fãs, não do show da banda.

 

E o problema de verdade não é nem mesmo o envelhecimento dos integrantes da banda, mas o comodismo que transparece em cada acorde que eles tocam. Brian Johnson agora precisa de recursos e brinquedinhos para levantar o público, e sua voz de alto alcance quase não merece mais essa denominação. Angus Young, o guitarrista lendário da banda, se limita a seus passos habituais e a tocar o que sabe de trás para frente. O restante da banda não faz mais que figuração e parecem estar entediados tocando. Phil Rudd, o baterista, chega a parecer alienado do mundo em alguns momentos. Deve fazer algum sentido simbólico para os fanáticos pela banda, mas certamente não é uma performance assim que vai garantir o lugar do AC/DC na música moderna.

 

É claro, seria injusto dizer que o AC/DC é um caso isolado de banda que perde a força para a parafernália pirotécnica dos shows modernos. De fato, os espetáculos que vemos hoje são muitas vezes mais guiados pela tecnologia do que pela música, e de certa forma grande parte dos artistas são incapazes de lidar com esse fator e ainda realizar um bom show. Para não falar que se trata de uma unanimidade, uma artista que sabe equilibrar bem as duas coisas é Madonna, que no show recente no Brasil fez questão de mostrar sua incrível presença de palco sem deixar de lado os recursos tecnológicos que marcaram sua forma de permanecer atual. A bem da verdade, mais do que simplesmente uma cantora, Madonna é o que os americanos chamam de entertainer, ou seja, uma artista completa capaz de prender a atenção de quem ouve e de quem vê.

 

Madonna, porém, é parte de uma minoria que ainda inclue gente do naipe de U2, Radiohead, Muse, Maroon 5 e James Blunt. A outra enorme parcela de bandas por aí sofre ao tentar se equilibrarentre puro carisma e elementos construídos para causar uma impressãof forte na platéia. O Coldplay é exemplo clássico de como uma música pode funcionar no álbum e não ao vivo. Cheio de sons sintéticos, o transporte para o show já não é dos melhores, e ainda não raro a banda se perde entre pausas longas demais, luzes ofuscantes e momentos de puro equívoco. Eventualmente, porém, gerenciados pelo produtor certo, a bandas inglesa é capaz de levar a platéia em uma experiência quase mística no palco. O mesmo com o Black Eyed Peas, que diminui a marcha de suas canções aceleradas e produz um show que não corresponde a expectativa sem os efeitos especiais dos videoclipes ou o ar de brincadeira dos álbuns.

 

Entre mortos e feridos, porém, as maiores vítimas do “mal do show moderno” são as bandas que, como gostam de dizer os críticos “ressuscitaram” anos depois de se separarem. Mais notavelmente, dois casos do ano passado tomaram caminhos diferentes e, sob última análise, chegaram ao mesmo beco sem saída. Primeiro, o The Police, trio de pop-rock inglês que fez um sucesso tremendo entre o fim dos anos 1970 e começo de 1980. Foram sete anos de atividade do disco de estréia Outlandos D’Amour (que tinha “Roxanne” na lista de músicas) até o histórico Synchonicity, que trazia o mega-hit “Every Breath You Take”, considerada até hoje a canção pop mais perfeita jamais composta. As brigas entre o vocalista Sting e o guitarrista Andy Summers foram responsáveis pela separação da banda, que retronou aos palcos vinte e cinco anos depois e arrecadou rios de dinheiro com uma turnê mundial que levantou os fãs da banda do chão. Objetivamente: o The Police ainda é um estouro pop no palco, mas um diferente daquele dos anos 1980. O charme descompromissado de Sting ficou para trás com os anos que passaram, a energia de Andy Summers se tornou em pura aristocracia britânica e o baterista Stewart Copeland faz uma imitação barata de Charlie Watts, dos Rolling Stones.

 

Caso para segunda análise: Guns N’ Roses. Sucesso absoluto na transição dos anos 1980 para os 1990, a banda comandada pelo explosivo Axl Rose foi desmenbrada pela própria ambição de seu líder, que tentou tomar conta da banda e acabou demembrando-a aos poucos com brigas internas. Quinze anos depois do último disco, The Spaghetti Incident? ter sido lançado, o Guns retornou com Chinese Democracy, provavelmente o disco mais esperado e adiado do nosso século. Talvez tenha sido expectativa demais, mas o disco é morno e o Guns não soa como a mesma banda. Literalmente dessa vez, uma vez que o único integrante que estava na formação original é o próprio Axl, que contratou outros músicos e se perdeu na falta de intimidade com eles e na pirotecnia exagerada de um show que não soa como um de rock. De certa forma, o novo Guns N Roses é a definição perfeita de tudo isso que envolve a música ao vivo no nosso século. É chato, radicalmente diferente e um labirinto de luzes que, no final das contas, deixa o que mais importa para trás. Música.

 

- Ao som de: Hollywood – Madonna

- Com os olhos em:A Troca”, de Clint Eastwood

Bom, pessoal, acho que esse foi o post mais longo que eu já fiz por aqui, mas o show que eu assisti realmente me deixou com vontade de escrever tudo isso. Vejo um futuro polêmico para esse post. Mas quem não gosta de polêmicas? Bom, por hoje é só. O melhor sempre para todos vocês e até mais!

2 comentários:

AC/DC SEMPRE SERÁ AC/DC *--*

www.conto-um-conto.blogspot.com

ACDC, pra mim, é uma banda que nunca perde a pegada. Mas realmente é complicado manter a mesma performance e eficácia de banda depois de velho... A idade pesa e as vezes é preciso remodelar as coisas...

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