domingo, 9 de agosto de 2009

P!nk e sua Funhouse – Nunca julgue um álbum pela capa

Pink-Funhouse [Front]

Alecia Beth Moore não é o tipo de mulher que faz o que o resto do mundo espera dela. Vinda ao mundo por obra de uma enfermeira e de um veterano de guerra, a americana de uma cidade pequena da Pensilvânia cresceu e se tornou a representação perfeita de uma geração insatisfeita com a própria imagem e com os limites que a sociedade lhe impunha. Apaixonada por música e desligada de estilos e convenções, Alecia começou sua trajetória, ainda sob o nome de batismo, em uma típica girl band dos anos 1990, alavanca para uma carreira-solo que se provaria dona de introspecção, ousadia e profundidade surpreendentes a cada novo acorde. Do lendário filme de ação Cães de Aluguel ela roubou seu nome de palco, P!nk, e direto do rock adolescente veio o repfescante M!sundaztood, um raro sucesso de qualidade que a qualificou para alçar vôos mais altos em outros dois álbuns de ambição e acerto exponenciais. Primeiro, mostrou seu verdadeiro rosto de roqueira barra-pesada no divertido Try This, e em seguida fez questão de lembrar que sabia construir melodias complexas no arrebatador I’m Not Dead. E depois veio Funhouse. Se me permitem acelerar um pouco as coisas, o quinto álbum de estúdio da cantora é todo baseado num tipo de propaganda enganosa que é bem recorrente entre os artistas que gostam de surpreender seu público. Tudo, da capa debochada ao título, que lembra aos grandes circos ianques, leva a crer que Funhouse é mais uma pérola de diversão levada pelo swing eletrônico que aparentemente dominou as paradas roqueiras do mundo inteiro. Basta dizer que o título original pretendido pela cantora seria Hearthbreak is a Motherfucker, e boa sorte ao tentar traduzir isso, para definir bem melhor o que é o álbum. Tudo começa a ficar mais claro quando é sabido que as letras, bem ao estilo intimista e confessional da cantora, foram escritas em uma época turbulenta de separação amorosa. Ou talvez seja melhor a própria P!nk explicar sobre o que é sua obra por baixo de todo o verniz sarcástico: “É sobre quando a caixa em que você se prendeu não te suporta mais. Então ponha aquela p**** abaixo e comece uma nova!”.  É, soa bem como coisa daquela americana que aprendemos a ouvir.

De essencial mesmo para entender e saber o que esperar de Funhouse temos as cinco primeiras faixas, espécie de surpreendente introdução a um disco que consegue ser melancólico e ter o swing citado no parágrafo acima a um único tempo. Bom exemplo disso é o primeiro hit e faixa de abertura, So What (I got a brand new attitude/ And I’m gonna wear it tonight/ I wanna get in trouble/ I wanna start a fight), grito de reafirmação levado todo por um contagiante riff de guitarra e excepcionalmente criativo em um ritmo oscilante que não é exatamente o que se espera hoje em dia de um mega-hit, até hoje o maior da cantora em terras nativas. O verdadeiro poder de P!nk em criar música pessoal e envolvente surge mesmo, porém, em Sober (I’m safe, up high, nothing can touch me/ So why do I feel this party is over?/ No pain inside, you’re like protection/ But how do I feel this good sober?), dona de letra quase constragedora de tão intimista e marcada por sutis toques de orquestra em uma melodia carragada toda por um ritmo acertado de bateria, enquanto a cantora destila seu potencial vocal em um refrão de arrepiar e fazer cantar junto. No final das contas, P!nk não precisa ser universal para ser envolvente, e é essa qualidade tão incomum e saborosa que faz da diminuição de ritmo em faixas como I Don’t Believe You (No, I don’t believe you/ When you say don’t come around here anymore/So don’t pretend to not love me at all) não uma anti-climática freada de criatividade mas sim uma escolha perfeita para o lamento esperançoso e melancólico de uma letra que é capaz de traduzir as angústias e desejos de qualquer separação amorosa. Isso sem contar o show de vocal que a cantora consegue entregar quando se vê livre da parafernália roqueira. Se por um lado P!nk é uma pérola quando faz o gênero simplista, por outro há toda a maestria instrumental de uma música como One Foot Wrong (All the light are on, but I’m in the dark/ Who’s gonna find me? Who’s gonna find me?/ Just onde foot wrong/ You’ll have to love me when I’m gone), música cheia de sutis influências do country americano sem com isso sair do esquema melódico e ritmado que marca todas as músicas de Funhouse. Utilizando-se com sabedoria de sons artificiais com os quais tantas cantoras pop de persem, P!nk contrói uma faixa que leva o ouvinte tanto no ritmo quando na letra descritiva e intrigante que carrega certas interpretações subjetivas. Mais uma vez nas palavras da cantora: “É uma música sobre como é fácil perder o controle sobre vida que levamos e nossa forma de lidar com nossos problemas”. Se essa é a mensagem mais desligada do insólito tema principal do álbum, então cabe a Please Don’t Leave Me (Please don’t leave me/ I always say how i don’t need you/ But it’s always gonna come right back to this/ So, please don’t leave me), dona de ritmo crescente sem perder o ponto e talvez o resumo mais competente e suscinto de todo o sentimento que impregna o álbum, da melancolia a vontade de começar algo novo. Há algo sobre mudanças, toques de pura súplica no refrão simbólico e até uma quebra de ritmo que faz todo o sentido do mundo quando inserida no contexto. Em suma, é a criatividade natural da cantora em plena e sensacional forma. E é tudo o que é preciso para passar por cima da propaganda enganosa e se apaixonar por Funhouse.

As faixas complementares são puramente reforço de um conceito quase acidental que se estabeleceu e produz mais momentos memoráveis especialmente na faixa-título, Funhouse (This used to be a funhouse/ But now it’s full of evil clowns/ It’s time to start the countdown/ I’m gonna burn it down, down, down), virada definitiva na vida e no disco da cantora, marcação perfeita para um momento de pura libertação e aceitação de uma nova situação. Cheia do sentimento que P!nk definiu como o ponto principal de seu disco, a música é pura diversão com mensagem, levada por guitarra e baixo bem marcados e sonoridade que não precisa ser complexa para ser criativa. Suposta preferida da própria cantora, Crystal Ball (Fortune teller that says/ Maybe you’ll go to hell/ But I’m not scared at all/ Of the cracks in the crystal/ The cracks in the crystal ball) é instinto musical ao quadrado em sua levada acústica sem muita inovação que, ao lado do backing vocal estratégicamente colocado, deixam a voz e a mensagem de auto-afirmação de P!nk soar mais alto. Por fim, Mean (How did we get so mean?/ How did we just moved on?/ How do you feel in the morning when it comes around and everything’s undone?) traz de volta as influências country para uma canção que deixa marcas no que pode ser o refrão mais contagiante desde muito tempo e ainda carrega com leveza uma letra que poderia ser depressiva. Qualidade essa que só é mais acentuada na faixa de fechamento do álbum, Boring (If you want me/ You’re gonna have to catch me/ If you wanna touch my whoa-oa-oa), talvez a faixa mais pesada do álbum, que deixa no ar se realmente pretendia ser uma paródia de tudo o que faz sucesso no pop atual ou simplesmente se tornou isso sem querer de uma letra mais sobre quebrar regras do que segui-las. O fato é que, sendo clara ou deixando sua mensagem para a imaginação do ouvinte, P!nk é uma das poucas em atividade que consegue passar por cima de uma propaganda enganosa sem irritar críticos ou abaixar as vendas. Funhouse chegou ao segundo posto da parada da Billboard, e foi campeão por semanas seguidas entre os britânicos. Prova de que criativiade e personalidade ainda são bens bem valorizados no meio musical. Falando sobre quebrar corações ou não, a verdade é que a música de P!nk é conquistadora não apenas por ser competente, mas principalmente por ser sincera. Falando dos seus problemas e criando seu mundo, ela consegue dizer mais do que muita banda politizada por aí. Afinal, já estava mesmo na hora de colocarmos a p**** da nossa prisão particular abaixo.

Pink-Funhouse [Back]

OBS: Essa é a terceira vez que tenho que repostar esse texto, dessa vez retirei os links para download, que não aparecerão mais por aqui mesmo. Recebi ontem um e-mail do Blogger dizendo que a IFPI (International Federation of the Phonographic Industry) denunciou este conteúdo por violação de direitos autorais. Como isso pode causar problemas tanto para mim quanto para os leitores, achei melhor abolir de uma vez os links de download.

The download links are banned from this blog. If the problem is something else, please forgive me, I’ll get it right in a moment. Thank you”

4 comentários:

Sem dúvida a Pink é original e fala mtas sobre sua vida pessoal q de alguma maneira tocam o público por ser similar a o q mtos passam...

Eu vejo ela como uma pessoa frágil, com um passado bem complicado e que tenta provar que é durona...só q ela faz isso de maneira mto própria e isso é legal

Não é o tipo de som q consumo, contudo não é um som q eu desprezo.

Abraço

Olá!

Bom, eu não sei se tem algo a ver, mas a Pink me lembra, de certo modo, a Cindy Lauper, "ícone pop" dos anos 80.

Talvez ela, Pink ( ou P!nk) saiba disso...e eu não tenha essa falsa impressão.

De qualquer forma, a Pink tem seu público cativo e, sinceramente, nunca me interessei em acompanhar o seu trabalho. É algo mais na linha pop do que rock. É divertido (como convém ao pop) e descompromissado...quem sabe, com "Funhouse" eu dê uma chance e ouça um pouco do trabalho da Pink? rs

Ah, e quanto à capa de CDs e livros...bom, se avaliarmos mesmo um monte de capas por aí, muita banda morreria de fome...rsss. O que dizer de uma vaca estampada na capa de um disco? Pois é, Pink Floyd...rs

abs!

Rindo muito aqui da observação do Jaimão. Cindy Lauper: Girls just wanna have fun! Uahahhahahhaaa!!!!

Cara, nunca fui muito de escutar Pink não... Lembro mais dela cantando Lady Marmalade. Ela cantava, não cantava?!

E em relação às capas de Cd... putz, isso rendia, hein! Que tal, Caio? Grande ideia...

Abração e foi mal pela demora...

Cara a Pink me lembra Fox kids rsrs Eu via os clips dela lá quando era mais novo. rs Mas a comparação com a cindy é impossivel não fazer. rs Caio, to morto aqui. Mas teu texto tá ótimo. Tu gosta é de arte mesmo. Vai ser uma grande referência um dia, e não ligue por ser apenas mais um, aos 15 anos sempre somos só mais um. rs

abração!!!

http://renanbarretoonline.blogspot.com

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