terça-feira, 14 de julho de 2009

Álbum: 21st Century Breakdown – Green Day

Green Day-21st Century Breakdown [Front]

Há quem acredite que o cerne de todo punk que se preze é habitado apenas por drogas e violência das mais assustadoras, tudo ao ritmo frenético das guitarras pesadas que se tornaram a marca da música que tornou a “tribo” conhecida em todo o mundo por volta das décadas de 70 e 80. Não que algum deles esteja preocupado em provar que tudo isso aí em cima está errado, é claro, mas é bem verdade que poucos estilos musicais conseguem ser tão críticos, impactantes e influentes em matéria de política, economia e sociedade do que o punk-rock. Veja os californianos do Green Day, por exemplo, que surgiram para o mundo no meio da onda neo-punk dos anos 90 e foram rankeados ao lado de gente do naipe de Offspring como as bandas mais bem-sucedidas da década. O novo século e a era Bush, porém, chegaram para derrubar o som até então descompromissado do trio com um par de discos mal-sucedidos comercialmente. Quatro anos de silêncio depois, o Green Day ressurgiu com o surpreendente American Idiot, uma ópera-rock e um tapa na cara de quem ainda acreditava no bom senso da Casa Branca, um disco que muita gente ousou chamar de marco inicial do polêmico movimento emocore. O visual dark do vocalista e as baladas de levada tranqila alternadas com refrões carregados de fúria podem até ter sido uma forte influência para My Chemical Romance e Fall out Boy, entre outros, mas a verdade é que, em termos de música, todos eles tem muito o que aprender com os mestres, e não há prova mais sólida disso do que 21st Century Breakdown, um tiro certeiro nos hábitos nem um pouco saudáveis da sociedade consumista em que vivemos. Drogas? Violência? Talvez nas ruas, mas o que o Green Day quer mesmo é mostrar o quanto somos idiotas, americanos ou não, nas mãos de quem nos manipula.

 

Bem ao estilo ópera-rock do álbum anterior, 21st Century Breakdown abre com Song of The Century (They're playing the song of the century/ Of panic and promise and prosperity/ Tell me a story into that goodnight/ Sing us a song for me), uma introdução de menos de um minuto levada em ritmo de canção de ninar pela voz amansada e inconfundível de Billioe Joe Armstrong, apoiado apenas por espertos sons de estática que remetem diretamente a letra narrativa e concisa. Um início perfeito para um álbum que se revela cheio de suas sutilezas, tanto que é mais do que necessário ter em mente que 21st Century Breakdown é na verdade mais do que um disco. É uma narrativa completa, dividida em três partes, sobre um casal de jovens americanos tentando lidar com tudo o que há de mais lindo e mais opressor na sociedade consumista em que nos transformamos. Complexo demais para você? Então melhor parar na faixa-título, 21st Century Breakdown (21st century breakdown/ I once was lost but never was found/ I think I’m losing what’s left of my mind/ To the 20th century deadline), que marca a apresentação de Christian, a parte masculina do casal protagonista, um rebelde perdido em meio a incertezas e pressões externas que serve de espelho perfeito para quem viu o século novo nascer e o mundo mudar em meio a seu próprio momento de transformação. É também o começo da primeira parte, Heroes and Cons, e uma música cheia de suas flutuações de ritmo, levadas pela guitarra sempre firme e pela voz quase lamuriante de Armstrong, espcialmente no final estiloso, daqueles de causar arrepios. Em seguida, o hit Know the Enemy (Silence is the enemy/ Against your urgency/ So rally up the demons of your soul), que abandona o lado puramente pessoal para passar uma mensagem universal de auto-conhecimento e observação do mundo, tudo levada com energia contagiante. Quase um tipo de resposta a tamanha pegada é Viva la Gloria (Gloria, where are you Gloria?/ You found a home/ In all your scars and ammunition/ You made your bed in salad days/ Amongst the ruin), grande candidata a melhor do álbum, uma balada bela e surpreendente que atinge com força por mostrar um lado diferente do Christian que conhecemos na primeira faixa, e de uma hora para a outra a música do Green Day se torna tão envolvente quanto qualquer filme ou peça de teatro. É bem verdade que Before de Lobotomy (Life before de lobotomy/ Christian sang the eulogy/ Sign my love a lost memory/ From the end of the century) erra ao colocar uma letra bem montada em meio a um arranjo um tanto frenético e equivocado, mas isso não diminui o impacto de sua mensagem. É o começo do fim para o protagonista, e Christian’s Inferno (I got under the grip/ Beetween this modern hell/ I got the rejection letter and it was already ripped to shred) acelera o ritmo para mostrar um trágico e apocalíptico arranjo narrando um momento negro dessa nova sociedade. Isso sem contar que o refrão é no mínimo viciante. A última parte do primeiro tomo de um disco completo começa (literalmente) com ecos de sua antecessora, mas surpreende com uma levada lenta e acertada. Last Night on Earth (I walked for miles till I found you/ I’m here to honor you/ If I loose it all in the fire/ I’m sending all my love to you) soa como uma música de Elton John com o tempero de uma história acompanhada desde a primeira faixa. Em resumo, é o fim mais dramático e fascinante que uma ópra-rock jamais teve.

 

A segunda parte do disco, intitulada Charlatans and Saints, retoma um lado mais universal do Green Day desde a primeira faixa, a pesada e marcante East Jesus Nowhere (A fire burns today/ Of blasphemy and genocide/ The sirens of decay/ Will inflitrate the faith fanatics), um futuro hino de protesto que pode se tornar o maior grito de indignação de uma geração que encontra na música de bandas como essa sua voz mais pública. E se o Green Day compôs seu hino definitivo na faixa de abertura de sua segunda parte é porque a criatividade e o estilo dominam cada acorde da guitarra da banda e o poema de seu protesto o torna único, mais do que simbólico e sólido como uma rocha. Os acertos continuam num ritmo bem perto do alucinante em Peacemaker (Well, I’ve got a fever/ A non-believer/ I’m in a state of grace/ For I’m the ceasar/ I’m gonna sieze the day), espécie de hit levado por guitarras acústicas e ritmo perigosamente perto do country, tudo no clima de palanque do entretenimento (sempre no bom sentido) que impregna toda a segunda parte do álbum. Por sua vez, o posto de ritmo mais dançante do álbum, algo incomum para o punk do Green Day, vai para Last of the American Girls (She’s a runaways of the establishment incorporated/ She won’t cooperate/ She’s the last of the american girls), dona de uma letra desciritiva que diz muito mais do que boa parte dos hinos emocore por aí e de uma guitarra marcada com precisão o bastante para criar um ritmo cheio de punch sem precisar acelerar as coisas para além do necessário. Emendada nesse espírito, mas nem tão acertada, Murder City (Desperate/ But not hopeless/ I feel so useless/ In the Murder City) é curta, tem uma letra consisa e arranjo enérgico, mas não consegue o mesmo envolvimento na mensagem que suas companheiras de narrativa. Em compensação, a teatral Viva la Gloria (Little Girl) (Little girl, little girl/ Your dirty liar/ You’re just a junkie/ Preachin in the choir) pode até carregar repetição no título, mas é um primor de surpresa e fascinação, impregnada por um piano marcado a perfeição e guitarras pesadas que formam uma mistura deleitosa para os ouvidos, mesmo que a letra retrate decepção e raiva. É o retorno de um foco mais pessoa a uma história que começa a voltar a se desenvolver. Restless Heart Syndrome (Somebody take the pain away/ It’s like an ulcer bleeding in my brain/ Send me to the pharmacy/ So I can loose my memory) fecha a segunda parte da ópera sem tanta pompa quanto era de se esperar, passa perto de ser uma devolução para a sonoridade incompleta de American Idiot, mas isso não lhe tira o mérito de uma letra poética, hinótica e carregada de sentimento, mesmo que apenas uma parte dele atinja o ouvinte.

 

Por fim, a terceira e mais curta parte é Horseshoes and Handgrenades, final bem armado para um disco que rende muito envolvimento e pelo menos meia dúzia de músicas inesquecíveis pelo caminho. A primeira das quatro últimas músicas leva o mesmo título de sua etapa na história, e Horseshoes and Handgrenades (Maybe you’re the runner up/ But the first one to lose de race/ Almost only really counts in/ Horseshoes and hand grenades) acerta em cheio com a sonoridade mais pesada de todo o álbum e uma revolta aparente em cada acorde das guitarras raivosas e na voz surpreendentemente rouca de Armstrong. The Static Age (Music to my nervous system/ Advertising love and religion/ Murder on the airwaves/ Slogans of the brink of corruption) não é tão feliz em suas guitarras-padrão e refrão de ritmo quebrado, e ainda guarda a mensagem mais superficial de todo o álbum, quase deslocada em sua crítica a música moderna em meio a contextos tão universais. É um protesto pessoal para a banda que quebra o ritmo da trama principal, posta de volta a voga no hit 21 Guns (Does the pain weigh out the pride?/ And you look for a plce to hide?/ Did someone break your heart inside?/ Your in ruins), um hino anti-bélico que pode tanto ser interpretado em seu contexto apoteótico quanto na história pessoal de um relacionamento caindo em pedaços. É uma metáfora sofisticada, complicada e impactante, que marca uma das baladas-rock mais criativas e belas dos últimos tempos. Mais complexa é American Eulogy (Red alert is the color of panic/ Elevated to the point of static/ Beating into the hearts of the fanatics), uma música dividida em duas partes claras e acertadas que seguem em ritmo frenético e fascinante para resumir quase toda a mensagem de um álbum repleto dela. Isso sem contar que as guitarras são usadas com sabedoria e não há um refrão assobiável, mas quase enlouquecedor. Por fim, See the Light (I just wanna see the light/ And I don’t wanna loose my sight/ I just wanna see the light/ I need to know what’s worth fighting for) fecha o álbum com os mestres do ritmo mostrando toda o seu repertório em uma música carregada de tudo o que soou mais alto no restante do álbum. Há sentimento, há protesto, há significância e há música das melhores. Tudo o que aqueles no começo do primeiro parágrafo menos esperariam de uma banda punk. Junte-se a eles e descubra como o novo século vai cair em decadência. Afinal, não custa nada ouvir um som dos bons no fim do mundo.

Link para Download - Mininova

Green Day-21st Century Breakdown [Back]

4 comentários:

Você detalhou tudo! Cara, é difícil achar alguém que faça isso hoje em dia. Convence. Eu não curto GD., mas o post é muito persuasivo.

Olá a todos! :)
Gostaria de elogiar esta matéria, pq ao contraio de muitas outras materias falando mal, ou bem, vc explicou o signicado de cada coisa.
Eu amo o Green Day e princapalmente as suas criticas a sociedade americana...
Para mim rock n' roll eh isso... expressar ideiais, mantendo o espirito jovem, criticar sempre acompanhado de um bom som.

[Nada de modinhas do tipo: emo.
Chega de criançinhas mimadas.]

viva a jovens forte e sabios.

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