terça-feira, 26 de maio de 2009

Morte do Rock


Dentre os estilos musicais, o rock é um dos mais abrangentes, com inúmeros subgêneros e variações sonoras, pode agradar a audição de pessoas com os mais diversos gostos. Influenciou na ideologia de vida de multidões, o que demonstra que o seu poder vai além da música.

Tendo seu início nas décadas de 1950-1960 e sendo influenciado principalmente pelo blues, agregado a uma série de outros estilos musicais, o rock passou por diversas transformações ao longo dos anos, a começar do Rockabilly, representando por Elvis Presley Jerry Lee Lewis. Nas mesmas décadas, o rock britânico já tomou grande espaço (Beatles, The Who, Rolling Stones, Animals, The Beach Boys). A partir daí, surgiram os movimentos contraculturais (ou undergroud, como preferir), caracterizados pela psicodelia e pelo protesto, destacando-se os ícones do folk (Bob Dylan, Neil Young, The Mamas and The Papas), além de Janis Joplin, Jimi Hendrix, The Doors, Jefferson Airplane, entre outros. No fim da década de 1960 o rock progressivo (Pink Floyd, Rush, Yes, Genesis) atingiu um grande sucesso comercial, devido à complexidade das canções.

Na década de 1970 o hard rock e o heavy metal (Led Zeppelin, AC/DC, Deep Purple, Black Sabbath) intensificaram o modo de tocar. Ainda nesta década, ocorreu o movimento punk (Ramones, The Clash, Sex Pistols), com o princípio do “faça você mesmo”, que se opunha ao resto da cena musical da época, já que era constituído de um princípio anticapitalista. A partir da década de 80 os subgêneros se expandiram, tendo como base os principais gêneros.

Atualmente, observa-se que toda a criatividade musical presente no início da história do rock, tornou-se algo exclusivo do passado, já que as denominadas “novas” bandas, não passam de uma cópia dos artistas que as influenciaram. Casualmente alguns artistas conseguem obter algum destaque, demonstrando que a morte da música não passa de uma cogitação, porém, a maioria dos fãs do bom e velho Rock ‘N’ Roll crêem que ele teve seu fim na década de 1990.

Observando por outro ângulo percebe-se que talvez a teoria de que o mundo acabaria no ano 2000 não foi totalmente infundada, já que a produção cultural da atualidade encontra-se em um hiato criativo ou até em plena morte. A dúvida que perdura, é se a humanidade conseguirá resgatar o espírito renovador do início do século. Alguns acreditam que a humanidade vive em ciclos, e que em breve, novos prodígios surgirão, desbancando os nomes renomados. Os que desprezam esta teoria, acreditam que jamais surgirão bandas como Led Zeppelin, Black Sabbath, Beatles, Queen, Pink Floyd, dentre tantos outros grandes nomes. Seja qual for sua opinião, vale a pena escutar os clássicos do rock, pois tudo o que é original, é melhor.

Letra da semana: The Saints Are Coming – U2 & Green Day

O encontro foi histórico. Duas bandas engajadas em causas políticas, que produziam música da maior qualidade, juntas em uma mesma tomada, em uma mesma voz, anunciando algo que nunca aconteceu. “Os santos estão vindo” pode não parecer nada demais a primeira vista, mas se trata de uma marca notável quando estamos falando de uma época em que o governo americano era justamente criticado por não ter enviado a ajuda necessária para a reconstrução e recuperação do estado de New Orleans após a passagem devastadora do furacão Katrina em 2006. E o fato é ainda mais impressionante quando estamos falando de uma letra escrita em 1978, três décadas antes dos trágicos eventos, pela banda The Skids. A música se tornou hit na época, lançando a banda para um curto estrelato, mas nada se comparou ao impacto e ao tom pessoal que as vozes conjugadas de Bono Vox e Billie Joe Armstrong deram a letra sobre tragédia, tempestades, inundações e abandono. Nada mais oportuno e nada mais alarmante do que ouvir um clamor tão desesperado na voz de dois dos maiores portadores das boas causas através da música.

 

Ao menos na ficção, “os santos” chegaram. No vídeo dirigido por Chris Milk, conhecido pelo trabalho com gente do calibre de Gnarls Barkley e Audioslave, as tropas americanas fictícias eram dispensadas do serviço no Iraque para prestar assistência as vítimas do Katrina em Nova Orleans. Ficção, é claro, e George Bush estava ocupado demais para sequer dar atenção a tamanho escândalo. A guerra continuou, Orleans precisou se reerguer por conta própria, comentários sobre preconceito e falta de um atendimento apropriado não passaram de ameaças e protestos. Mas as duas bandas, em alta na época por seus respectivos e repercutidos últimos álbuns (How to Dismantle an Atomic Bomb e American Idiot), trataram de deixar sua marca na história da música e seu recado para a Casa Branca. Em tempos de muitas promessas com Obama, não custa nada se lembrar um pouco.

 

U2 & Green Day – The Saints Are Coming

Composição: The Skids

 

There is a house in New Orleans

They call it The Rising Sun

It’s been the ruin for many a poor boy

And God, I know I’m one

Há uma casa em Nova Orleans

Eles a chamam de O Sol Nascente

Está sendo a ruína de muitos, um pobre menino

E Deus, eu sei que sou um

I cried to my daddy in the telephone

How long now?

Until the clouds unroll and you come home

The line went

But the shadows still remains since your descent

Your descent

Chorei para o meu pai no telefone

Faz quanto tempo?

Até as nuvens passarem e você voltar para casa

A linha se foi

Mas as sombras ainda ficam desde sua partida

Sua partida

I cried to my daddy in the telephone

How long now?

Until the clouds unroll and you come home

The line went

But the shadows still remains since your descent

Your descent

Chorei para o meu pai no telefone

Faz quanto tempo?

Até as nuvens passarem e você voltar para casa

A linha se foi

Mas as sombras ainda ficam desde sua partida

Sua partida

The saints are coming, the saints are coming

I say no matter how I try, I realize there’s no reply

The saints are coming, the saints are coming

I say no matter how I try, I realize there’s no reply

Os santos estão vindo, os santos estão vindo

Não importa como eu tente, percebo que não há resposta

Os santos estão vindo, os santos estão vindo

Não importa como eu tente, percebo que não há resposta

A drowning sorrow floods the deepest grief

How long now?

Until the weather change condemns belief

How long now?

When the night watchman lets in the thief

What’s wrong now?

Uma tristeza sufocante inunda a mais profunda angústia

Faz quanto tempo?

Até que o tempo mude e condene a crença

Faz quanto tempo?

Quando o vigia noturno deixa entrar o ladrão

O que há de errado agora?

The saints are coming, the saints are coming

I say no matter how I try, I realize there’s no reply

The saints are coming, the saints are coming

I say no matter how I try, I realize there’s no reply

I say no matter how I try, I realize there’s no reply

I say no matter how I try, I realize there’s no reply

Os santos estão vindo, os santos estão vindo

Não importa como eu tente, percebo que não há resposta

Os santos estão vindo, os santos estão vindo

Não importa como eu tente, percebo que não há resposta

Não importa como eu tente, percebo que não há resposta

Não importa como eu tente, percebo que não há resposta

Bom, gente, por hoje é só isso mesmo, mas tenho um recado. Nos últimos dias tenho andando bem ocupado, então sem muito tempo para postar por aqui, mas saibam que estou planejando tornar o Gramophonica mais atualizado em termos de música, provavelmente com a criação de um boletim semanal de notícias musicais, e sempre tentando conferir os novos álbuns lançados por aí, certo? Por enquanto, um dia cheio de música para vocês e até mais!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Álbum: Feels Like Home – Norah Jones

Norah Jones não é uma exatamente o maior exemplo de sucesso entre as cantoras jovens dos últimos anos. De fato, a nova-iorquina sempre agradou mais aos críticos e ao público mais velho, saudoso do tempo em que o jazz era o som mais popular e as danças eram bem mais lentas do que as de hoje. Em 2001, quando a garota de 23 anos lançou seu Come Away With Me, um par de hits chegou a tocar nas rádios e de uma hora para outra novas cantoras nem tão talentosas que pretendiam fazer jazz estouraram mundo afora. A bem da verdade, não há nada de excepcional ou diferenciado na música de Jones, mas há uma espécie de sentimento tão despretensioso e uma sonoridade tão casual em seus acordes que, de alguma forma, a cadência da música faz o ouvinte embarcar no ritmo e, quando menos se espera, aquele sentimento expresso em palavras tão ao acaso chega forte aos ouvidos e a emoção. O que Jones faz é música de alma para alma, e me desculpe quem prefere ouvir o pop perfeitinho das “Britney Spears” por aí, algo bem mais verdadeiro do que 90% do que se faz na música atual.

 

Feels Like Home, segundo álbum da cantora, lançado no já longíquo 2004, soa como uma evolução para o som sem grandes arrojos que soava de forma competente e etérea em Come Away With Me. A bem da verdade, é um álbum mais puro, que aposta mais na sonoridade crua e sem os toques artificiais que as vezes prejudicavam o andamento das canções no anterior. A voz de Jones, também, está mais amadurecida, mais firme, menos sussurrante e mais segura. Já em uma das primeiras faixas, “What Am I to You” (Don’t fill my heart with lies/ I will love you when you’re blue/ But tell me darling true/ What am I to you?), a rouquidão leve que soava no álbum de estréia é trocada por uma interpretação mais forte e segura de uma canção com toques mais balançados e, surpresa, uma guitarra de fundo excepcionalmente bem colocada. Não muito depois de algumas faixas no mesmo ritmo, “Carnival Town” (Round and round/ Carousel/ It got you under its spell/ Running so fast/ But going nowhere) diminui a marcha e se utiliza bem de um melancólico violino para se tornar a melhor de todo o álbum. É quando chegamos em “In the Morning” (Dark like the shade corner inside a violin/ Hot like to burn my lips/ I know I can’t win) e as influências de country aparecem de forma sutil no som de Jones. O resultado é uma deliciosa balada de ritmo embriagante. Em compensação “Be Here to Love Me” (But who cares what the night watchmen say/ Stage has been set for the play) se perde nas mesmas influências e encontra pouca força no exagero. “Toes” (The current is strong from what I've heard / It'll wisk you down the stream/ But there never seems to be much time) poderia ser uma boa música se não estivesse no meio termo entre entre as duas anteriores e não tivesse uma letra tão desconexa. Dois erros menores em comparação com a divertida “The Long Way to Home” (Money’s just something you throw off the back of a train/ Got a handful of lghtening/ A hat full of rain), outra séria candidata a melhor do álbum com seu ritmo bem marcado, e a linda “Don’t Miss You at All” (As I sit and watch the snow fallin’ down/ I don’t miss you at all), uma carta confessional e melancólica que definde de uma vez por todas o que Norah Jones representa para a música atual. Como diriam os nostálgicos: Norah é música de verdade.

- Link para download: http://www.torrentreactor.net/torrents/2986686/Norah-Jones-Feels-Like-Home-%282004%29-FLAC-4834836-TPB

domingo, 17 de maio de 2009

Pedra Letícia – Sobre música brasileira, humor e sucesso virtual

Muito se fala sobre música brasileira. Não só aqui, mas também lá fora, onde cantores fracassados pela “falta de um apelo popular” vão buscar abrigo e acabam se tornando sucesso mundial… menos no Brasil. É uma pena que, exceptuando-se esses casos, o que o mundo fala sobre música brasileira é, basicamente e objetivamente, passado. Não querendo desmerecer gente do nível de Chico Buarque, Vinícius de Moraes e quem quer mais que você seja capaz de mencionar, mas é fato que, no mundo rápido em que estamos vivendo e na moderna febre virtual, é preciso acima de tudo ser esperto, rápido e atento para fazer sucesso. E não estou falando apenas de cifras, vendas, clips passando na MTV e participação no Programa do Faustão. Pelo contrário, a questão aqui é muito mais sobre músicas tocadas ao vivo, covers de bandas iniciantes e alta taxa de downloads, legais ou não.

 

Um dos maiores fenômenos nessas matérias nos últimos tempo é uma banda de rock goiana com batidas simples, ritmo contagiantes e letras quase geniais de tão inocentemente engraçadas. E veja bem, o humor do Pedra Letícia não é a ironia fina da música pop americana ou o exagero das letras de rap. É algo no intermédio entre os dois, algo que não fica sofisticado demais a ponto de enojar nem baixo demais a ponto de causar repulsa nos de gosto mais refinados. Basicamente, é música para criar um sorriso irremediável no rosto do espectador. É carismático, conquistador, instigante e, acima de tudo, diferente. E talvez por isso tenha sido um tamanho sucesso entre o público mais jovem, que descobriu o trio goiano nos sites de relacionamento e páginas de vídeo e música espalhados pela Internet e logo os elevaram ao posto de banda preferida para animar as apresentações mais “acústicas” nas baladas por aí. Bandas de garagem os adotaram como fonte de repertório esperto e agradável. A banda cresceu nas mãos de seu público. Não por acaso, no último domingo o Pedra Letícia foi parar no Faustão. O que de forma nenhuma significa uma mudança de direção.

 

Um bônus? O Pedra Letícia detem hoje o posto de um dos melhores shows do Brasil, criando uma ligação literal com a platéia, instigando o público a participar ativamente do espetáculo e destilando seu humor particular por todos os cantos e levando suas letras cotidianas, quase improvisadas, para um palco maior, melhor, e não por isso menos renovador, original e genuinamente brasileiro. Não é música para fazer sucesso no exterior, uma vez que é justamente nas letras que reside o maior charme das músicas. Não é música americana, não é música pop, mas é a nossa música. Com muito orgulho. Afinal, há algum tempo que o Brasil anda precisando de uma banda para chamar de exclusivamente sua.

 

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Letra da semana: Ironic – Alanis Morrissette

A maioria deve ter conhecido de cara a seqüência de imagens aí em cima, mas para quem não acompanhava os hits do momento nos anos 1990 ou não se liga muito em videoclips, trata-se de fotos do  hit “Ironic”, da cantora canadense Alanis Morrissette. A música, que figura na playlist do segundo álbum da cantora, Jagged Little Pill (1995), é até hoje c onsiderada um dos símbolos maiores da música na década passada. Há os lingüistas que dizem que, técnicamente, pouco do descrito na letra da própria Alanis em parceria com o produtor Glen Ballard é de fato uma ironia, mas sobre isso a cantora já lançou sua pequena pérola de sempre. Segundo ela: “Para mim o momento mais doce veio em Nova York quando uma mulher veio até mim em uma loja de discos e disse: ‘Então todas aquelas coisas ditas em Ironic não são irônicas’. E então ela diz: ‘Bem, acho que essa é a ironia’. Eu só pude responder ‘é isso mesmo’. Para mim Ironic é o retrato da definição e versão de uma adolescente de 19 anos sobre como a vida funcionava na época.”

 

A verdade é que “Ironic” é um deleite para os ouvidos com seu ritmo sereno quebrado por partes furiosas, especialmente no refrão, que tem algo a dizer e uma história para contar. Seja tudo isso descrito aí embaixo tecnicamente irônico ou não, a verdade é que a Alanis fez a letra e a música que definiram uma geração. Se hoje ela é uma artista egocêntrica que canta mais para si mesma do que para os fãs, pelo menos uma década atrás o Canadá teve algo para se orgulhar além do country de Shania Twain. Só por isso e por fazer da ironia algo tão agridoce, Ironic já merece seu lugar por aqui, estrofe por estrofe, no original e no traduzido:

Ironic – Alanis Morrissette

An old man turned ninety-eight

He won the lottery and died the next day

It’s a black fly in your Chadornnay

It’s a death row pardon, two minutes too late

Isn’t it ironic… don’t you think?

Um velho homem fez 98 anos

Ganhou na loteria e morreu no dia seguinte

É uma mosca pousada em seu Chadornnay

É um perdão de vida ou morte, dois minutos tarde demais

E isso não é irônico… você não acha?

It’s like rain on your wedding day

It’s a free ride when you’ve already paid

It’s the good advice  that you just didn’t take

And who would’ve thought… it figures

É como chuva no dia de seu casamento

É uma passagem de graça quando você já pagou

É um bom conselho que você simplesmente não aceitou

E quem teria pensado… isso pode acontecer

Mr. Play It Safe was afraid to fly

He packed his suitcase and kissed his kids good-bye

He waited his whole damn life to take that flight

And as the plane crashed down he thought

“Well, isn’t this nice?”

And isn’t it ironic… don’t you think?

Sr. Precavido tinha medo de voar

Ele arrumou sua mala e deu um beijo de despedida em seus filhos

Ele havia esperado toda sua maldita vida para pegar aquele vôo

E enquanto o avião caía, ele pensou

“Bem, isso não é legal?”

E isso não é irônico… você não acha?

It’s like rain on your wedding day

It’s a free ride when you’ve already paid

It’s the good advice  that you just didn’t take

And who would’ve thought… it figures

É como chuva no dia de seu casamento

É uma passagem de graça quando você já pagou

É um bom conselho que você simplesmente não aceitou

E quem teria pensado… isso pode acontecer

Well life has a funny way of sneaking up on you

When you think everything’s okay and averything’s going right

And life has a funny way of helping you out when

You think everything’s gone wrong and everything blows up

In your face

Bem, a vida tem um jeito engraçado de aprontar com você

Quando você pensa que tudo está bem e tudo está indo certo

E a vida tem um jeito engraçado de te ajudar quando

Você pensa que tudo está indo mal e tudo explode

Na sua cara

A traffic jam when you’re alreadky late

A no-smoking sign on your cigarrette break

It’s like ten thousand spoons when all you need is a knife

It’s meeting the man of my dreams

And then meeting his beautiful wife

And isn’t it ironic… don’t you think?

A little too ironic… and yeah I really do think!

Um engarrafamento quando você já está atrasado

Uma placa de “proibido fumar” no seu intervalo para um cigarro

É como dez mil colheres quando tudo o que você precisa é uma faca

É conhecer o homem dos meus sonhos

E então conhecer sua linda mulher

E isso não é irônico… você não acha?

E isso não é irônico… e sim, eu realmente acho!

It’s like rain on your wedding day

It’s a free ride when you’ve already paid

It’s the good advice  that you just didn’t take

And who would’ve thought… it figures

É como chuva no dia de seu casamento

É uma passagem de graça quando você já pagou

É um bom conselho que você simplesmente não aceitou

E quem teria pensado… isso pode acontecer

Well life has a funny way of sneaking up on you

And life has a funny, funny way of helping you out

Helping you out

Bem, a vida tem um jeito engraçado de aprontar com você

E a vida tem um jeito engraçado de te ajudar

De te ajudar

untitled

Bom, pessoal, e por hoje é isso… a partir de hoje, quarta-feira é sempre dia de uma letra por aqui no Gramophonica. E assim vou continuar instituindo sessões para os dias da semana até encher a agenda, certo? Mas enfim, queria deixar aqui um recado para os leitores do Lágrimas na Chuva, que era o blog que era publicado por aqui antes desse. Bom, em primeira estância, todas as séries instituídas no Lágrimas estão extintas, mesmo porque acho que reflexões como as que eu fazia não cabem bem aqui. Por enquanto, o Gramophonica é puramente um blog de música, mas pretendo fazer um dia específico da semana para sair um pouco do assunto e falar do que está acontecendo fora desse mundo de acordes, certo? Por isso, inclusive, estou deletando alguns dos posts mais fora do assunto que Gramophonica herdou do Lágrimas e colocando no ponto aas que podem permanecer. Bom, pessoal, então era isso que eu tinha para falar. Os melhores ritmos para vocês sempre e até mais!

terça-feira, 12 de maio de 2009

Sobre AC/DC, shows e bandas que “voltaram”

 

Acho que não posso me dizer um fã de AC/DC, mas acho também que basta gostar de rock para saber reconhecer um show de verdade. Do pouco que vi dessa banda australiana em seus tempos áureos, lembro-me bem dos clipes exagerados característicos da época e da performance explosiva, cheia de estilo e que explodia um público em poucos segundos de performance em palco. Mesmo quando apareciam tocando nos vídeos, eles transmitiam uma energia que ia além da música para se tornar um espetáculo completo e delicioso de se assistir. Em suma, o AC/DC era a tradução mais perfeita do verdadeiro espírito rocker. As músicas podiam soar iguais sempre e nunca fugir de um certo padrão, mas a garantia de diversão era o que mais marcava na banda.

 

Oficialmente, o AC/DC nunca se separou, apesar de boa parte da mídia assinalar a recente popularidade da banda como um “retorno”. De 1973, quando o disco High Voltage explodiu na terra dos cangurus e levou a banda para o mundo inteiro com hits do naipe de “It’s a Long Way to The Top” e “T.N.T.”, até hoje, o som explosivo e puramente rocker da banda continuou a tocar intacto através de 35 anos de estrada. Mesmo enfrentando a morte do vocalista Bon Scott em 1980, o AC/DC seguiu em frente com o carismático Brian Johnson nos vocais e chegou ao auge da popularidade com Back in Black, um dos discos mais vendidos da história, lançado justamente em 1980. Daí para frente, a banda seguiu com gravações cada vez menos populares até 2000, quando Stiff Upper Lip decepcionou nas vendas e fez a banda se utilizar do famoso recurso “dar um tempo”. Foi só oito anos depois, com o furacão Black Ice, que o AC/DC voltou com tudo aos palcos e fez uma das turnês mais lucrativas do ano.

 

Depois dessa pequena pílula sobre a história da banda, vamos aos fatos: o AC/DC não é o mesmo em um palco. Sei que estou correndo contra a maré, mas minha testemunha é ocular. Ontem, sexta-feira, 09 de Maio, a MTV Brasil exibiu em seu programa “World Stage” a apresentação que o grupo fez em Madri para milhões de pessoas. No repertório, todos os clássicos da banda e as músicas já bem conhecidas do novo álbum. Resolvi dar uma chance ao show, mas a única sensação que pude manter depois de “Back in Black” soar no palco é que tudo é planejado demais nos dias de hoje. O show do AC/DC ainda é um espetáculo, mas é um de passos marcados e encaminhamento previsível. É quase como se, no palco, a banda fosse a promessa de uma bomba atômica que explode com a força de uma granada de mão. Da abertura com o maior hit, passando por “Highway to Hell” e “Hells Bells”, o show só pega fogo do jeito que promete em algumas passagens em que a participação do público é evidenciada, especialmente em “Dirty Needs Done Dirt Cheap”. Mas aí estamos falando do show dos fãs, não do show da banda.

 

E o problema de verdade não é nem mesmo o envelhecimento dos integrantes da banda, mas o comodismo que transparece em cada acorde que eles tocam. Brian Johnson agora precisa de recursos e brinquedinhos para levantar o público, e sua voz de alto alcance quase não merece mais essa denominação. Angus Young, o guitarrista lendário da banda, se limita a seus passos habituais e a tocar o que sabe de trás para frente. O restante da banda não faz mais que figuração e parecem estar entediados tocando. Phil Rudd, o baterista, chega a parecer alienado do mundo em alguns momentos. Deve fazer algum sentido simbólico para os fanáticos pela banda, mas certamente não é uma performance assim que vai garantir o lugar do AC/DC na música moderna.

 

É claro, seria injusto dizer que o AC/DC é um caso isolado de banda que perde a força para a parafernália pirotécnica dos shows modernos. De fato, os espetáculos que vemos hoje são muitas vezes mais guiados pela tecnologia do que pela música, e de certa forma grande parte dos artistas são incapazes de lidar com esse fator e ainda realizar um bom show. Para não falar que se trata de uma unanimidade, uma artista que sabe equilibrar bem as duas coisas é Madonna, que no show recente no Brasil fez questão de mostrar sua incrível presença de palco sem deixar de lado os recursos tecnológicos que marcaram sua forma de permanecer atual. A bem da verdade, mais do que simplesmente uma cantora, Madonna é o que os americanos chamam de entertainer, ou seja, uma artista completa capaz de prender a atenção de quem ouve e de quem vê.

 

Madonna, porém, é parte de uma minoria que ainda inclue gente do naipe de U2, Radiohead, Muse, Maroon 5 e James Blunt. A outra enorme parcela de bandas por aí sofre ao tentar se equilibrarentre puro carisma e elementos construídos para causar uma impressãof forte na platéia. O Coldplay é exemplo clássico de como uma música pode funcionar no álbum e não ao vivo. Cheio de sons sintéticos, o transporte para o show já não é dos melhores, e ainda não raro a banda se perde entre pausas longas demais, luzes ofuscantes e momentos de puro equívoco. Eventualmente, porém, gerenciados pelo produtor certo, a bandas inglesa é capaz de levar a platéia em uma experiência quase mística no palco. O mesmo com o Black Eyed Peas, que diminui a marcha de suas canções aceleradas e produz um show que não corresponde a expectativa sem os efeitos especiais dos videoclipes ou o ar de brincadeira dos álbuns.

 

Entre mortos e feridos, porém, as maiores vítimas do “mal do show moderno” são as bandas que, como gostam de dizer os críticos “ressuscitaram” anos depois de se separarem. Mais notavelmente, dois casos do ano passado tomaram caminhos diferentes e, sob última análise, chegaram ao mesmo beco sem saída. Primeiro, o The Police, trio de pop-rock inglês que fez um sucesso tremendo entre o fim dos anos 1970 e começo de 1980. Foram sete anos de atividade do disco de estréia Outlandos D’Amour (que tinha “Roxanne” na lista de músicas) até o histórico Synchonicity, que trazia o mega-hit “Every Breath You Take”, considerada até hoje a canção pop mais perfeita jamais composta. As brigas entre o vocalista Sting e o guitarrista Andy Summers foram responsáveis pela separação da banda, que retronou aos palcos vinte e cinco anos depois e arrecadou rios de dinheiro com uma turnê mundial que levantou os fãs da banda do chão. Objetivamente: o The Police ainda é um estouro pop no palco, mas um diferente daquele dos anos 1980. O charme descompromissado de Sting ficou para trás com os anos que passaram, a energia de Andy Summers se tornou em pura aristocracia britânica e o baterista Stewart Copeland faz uma imitação barata de Charlie Watts, dos Rolling Stones.

 

Caso para segunda análise: Guns N’ Roses. Sucesso absoluto na transição dos anos 1980 para os 1990, a banda comandada pelo explosivo Axl Rose foi desmenbrada pela própria ambição de seu líder, que tentou tomar conta da banda e acabou demembrando-a aos poucos com brigas internas. Quinze anos depois do último disco, The Spaghetti Incident? ter sido lançado, o Guns retornou com Chinese Democracy, provavelmente o disco mais esperado e adiado do nosso século. Talvez tenha sido expectativa demais, mas o disco é morno e o Guns não soa como a mesma banda. Literalmente dessa vez, uma vez que o único integrante que estava na formação original é o próprio Axl, que contratou outros músicos e se perdeu na falta de intimidade com eles e na pirotecnia exagerada de um show que não soa como um de rock. De certa forma, o novo Guns N Roses é a definição perfeita de tudo isso que envolve a música ao vivo no nosso século. É chato, radicalmente diferente e um labirinto de luzes que, no final das contas, deixa o que mais importa para trás. Música.

 

- Ao som de: Hollywood – Madonna

- Com os olhos em:A Troca”, de Clint Eastwood

Bom, pessoal, acho que esse foi o post mais longo que eu já fiz por aqui, mas o show que eu assisti realmente me deixou com vontade de escrever tudo isso. Vejo um futuro polêmico para esse post. Mas quem não gosta de polêmicas? Bom, por hoje é só. O melhor sempre para todos vocês e até mais!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Paixão musical da semana – Colbie Caillat

Não é preciso nada demais para fazer boa música. Basta um pouco de bom gosto, uma voz bem colocada e uma melodia simples e agradável. Claro, eu estaria sendo hipócrita se dissesse que é fácil para qualquer um por aí pegar um instrumento e sair compondo canções a torto e direito. Se fosse, não havia música ruim e certamente não haveriam gostos diferentes. De qualquer forma, o ponto é que as vezes a complexidade de arranjos, os recursos técnicos tão evidentes hoje em dia e a progressiva “digitalização” da música com blips e sons artificais enchendo os ouvidos na música pop, pode tornar a música algo mais divertido, mas certamente mais superficial. Afinal, o cinema e a vida já nos mostraram que o que há de mais emocionante e marcante não passa de um sentimento simples. Pode parecer piegas e pode parecer coisa de crítico fraco que se deixa derreter por uma voz aveludada, mas é impossível negar que pouca gente faz o estilo de música de Colbie Caillat.

A bem da verdade, não há nada que indique as músicas de Coco, álbum de estréia da americana, sejam excepcionais. Simplesmente porque elas não desejam ser, e ainda assim conquistam o ouvido e a mente como poucas nos últimos tempos. O que Colbie faz é música para gostar, não música para analisar. É divertido, é sincero, é simples e é irresistível. O disco abre com “Oxygen” (How am I suppose to tell you how I feel/ I need oxygen), uma canção de amor balançada que abre com o espírito de liberdade que impregna todas as outras faixas do disco. “Dreams Collide” (I close my eyes and try to hide/ But I wait, when this dreams collide) tem um riff fácil para assoviar e uma letra confessional que, como os sentimentos de verdade, vem como um turbilhão que muitas vezes não faz sentido. O hit “Bubbly” (Wherever it goes I always know/ That you make me smile, please stay for a while/ Just take your time, wherever you go) acerta em cheio no romantismo e é capaz de fazer aflorar um sorriso até no dia mais cansativo. Colbie tropeça um pouco em “Tailor Made” e “Feeling Show”, canções que poderiam soar bem na voz de gente como Avril Lavigne, mas não se adaptam em seu timbre mais grave. Um par de pequenos deslizes que não apaga o ritmo contagiante de “Midnight Bottle” (And everything is allright/ If only for tonight) ou a melodia encantadora de “Magic” (And all I see is your face/ All I need is your touch) uma lamentação apaixonada que conquista o ouvinte com poucos acordes. Por fim, o pico do disco é “Capri” (Adn things will be hard at times/ But I’ve learned to rry/ Just listening/ Patiently), em que uma Colbie flertando com o folk solta a voz e deixa sua impressão na memória. Uma canção que define bem o sentimento de pureza e liberdade depois de ouvir Coco de ponta ponta. Apaixone-se você também.

- Link para download: http://thepiratebay.org/torrent/3983374/Colbie_Caillat_-_Coco_(2007)

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