segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tempo e Música – O Killers de “Sam’s Town” e o de “Day & Age”

Tempo. Matéria misteriosa, engrenagens eternas que se movem impiedosamente sem se importar com o que acontece em um mundo terreno que é fugaz e ainda mais misterioso para a limitada mente humana. Não podemos sequer entendê-lo, que dirá manipulá-lo ao que chamamos de nosso favor em um julgamento que nem sempre ou quase nunca é o correto. Se não pode vencê-lo, junte-se a ele. É o que todos nós fazemos a cada dia, vendo o tempo passar e se furtando, talvez sabiamente, de pensar o que poderia ter saído de melhor a cada segundo. E eles se transformam em minutos, horas, dias, meses, anos… uma vida. Quando surgiu em 2002 com a bomba atômica musical Hot Fuss, o The Killers não entrou para a lista oficial de 1001 bandas que você precisa ouvir antes de morrer por acaso. O quarteto de Las Vegas tinha balanço pop, criatividade nos ritmos pesados e uma composição competente de letras confessionais entoadas com pretensão mal disfarçada pela voz insuspeitamente poderosa do vocalista Brandon Flowers. Se de fato, como os críticos diziam, o The Killers pretendia se tornar o U2 do futuro e ganhar o almejado título de “maior banda do mundo”, Hot Fuss foi um primeiro passo acertadíssimo.

 

A primeira obra dam banda provocou tanto barulho, aliás, que apenas dois anos depois a pretensa “banda do século” retornou com Sam’s Town, uma espécie de ópera-rock levada por músicas que mantinham o balanço pop do primeiro álbum mas soavam de alguma forma uma evolução musical, quase como uma nova fase, disfarçada de mais do mesmo, de uma banda que só sabia crescer. Havia obras-primas, potenciais hinos do futuro, tudo levado por letras que de repente saíam da atmosfera puramente pessoal de auto-gozação do primeiro álbum para poder dizer algo não apenas sobre aquela voz marcante que entoava as palavras, mas sobre tudo que estava a sua volta. Especialmente depois das três faixas que davam início ao álbum, uma tentativa meio improvisada de mostrar que o Killers também sabe contar uma história complexa, tínhamos, quase em seguida, pelo menos um quarteto de músicas não menos que brilhantes, que representavam mais do que perfeitamente um álbgum cheio de potencial. Primeiro, For Reasons Unknown (With one deep breath, and one big step/ I move a little bit closer, I move a little bit closer, I move a little bit closer/ For reasons unknown), dona de uma letra narrativa que servia como uma luva para qualquer ser humano que já se viu diante de uma decisão difícuil e seguiu o instinto até perceber que, talvez, fosse melhor pensar um pouco melhor antes do tempo se esgotar. Isso sem contar que havia guitarras pesadas manipuladas com sabedoria e um ritmo que ia do calmo ao alucinante com a mesma desenvoltura. Depois, logo depois, tínhamos o hit Read My Mind (The good old days/ The honest man/ The restless heart/ A promised land/ A subtle kiss that no one sees/ A broken wrist/ The big trapeize), para muitos á música mais metafórica e deliciosa de se ouvir do século, uma obra-prima de sons artificiais misturados com a mais pura e prazeroza viagem musical dos últimos tempos, tudo embalado pro uma letra que talvez defina o ambiente urbano da forma mais sincera e poética desde muito tempo. Bones (Don’t you wanna come with me?/ Don’t you wanna feel my bones on your bones?/ It’s only natural) vinha então para trazer um pouco do clima vagabundo de Vegas em uma música cheia de seus modismos e da energia que podia fazer falta aos que se apegaram demais a sonoridade do primeiro álbum. Enfim, é uma inserção sábia de punch em um álbum que precisava desse respiro de espírito para continuar em seu som particular, talvez até único. Para fechar o quarteto vitorioso, My List (Let me wrap myself around you/ Let you show me how I see it/ And when you come back in from nowhere/ Do you ever think of me?) era muito provavelmente a balada-rock mais criativa e surpreendente do século, começando com uma levada em piano e chegando ao clímax em um refrão que não forçava a velocidade, mas tinha um novo e fascinante andamento com a letra cheia de questionamente como quase todas do Killers. Não que o álbum se resumisse a essas quatro músicas, mas elas talvez definam bem Sam’s Town, um álbum produzido pelo Killers mais maduro e mais melódico que podia, sim e sem dúvidas, conquistar o mundo. Premiado no BRIT Awards, porém, o álbum provocou divisão entre os críticos e ódio mortal nos fãs das banda que esperavam mais do mesmo e receberam uma evolução. Tudo acabou consipirando para uma venda abaixo do esperado. O destino pode ser cruel, mas o tempo continuou a passar.

 

Mais dois anos e alguns meses matutando uma forma de voltar ao início como os fãs queriam sem deixar de ser aquela banda cheia de idéias que se tornaram em Sam’s Town, em novembro último o Killers retornou a cena que quer dominar no futuro com um álbum inesperado, que foi lançado sem muito alarde para simular a discrição da primeira obra da banda. Day & Age é como o retorno daquele tipo de vilão megalomaníaco que pretende dominar o mundo e nunca vai se deixar derrotar, mesmo que as porradas venham de todos os lugares possíveis. O que se via era uma banda em busca de um equilíbrio difícil de alcançar, que tentava ser mais acessível para um público jovem mesmo sendo diferente de tudo o mais que tocava nas rádios mais populares por aí. As letras agora se dirigiam, mais do que a qualquer ser humano que queira viver a vida plenamente, a uma faixa mais perdida e com mais vontade de simplesmente abandonar tudo. Havia conselho, havia descrição pelo que era e havia hinos de descompromisso que rimavam mais do que perfeitamente com uma nova e antiga geração que não pode mais fugir do que é e encontra na música seu grito mais forte. O Killers transformara a si mesmo em um veículo como tantos outros, diferenciado pelo arsenal musical, pela sonoridade bem escolhida e pela pura sabedoria na hora de dosar dois lados quase distintos. E o quarteto nunca foi melhor. Abrimos com a excepcional Losing Touch (I ain’t in no hurry, you run and tell your friends/ I’m losing touch/ Fill their heads with rumors of impending doom/ It must be true), logo de cara uma explosão de guitarras indefiníveis e refrão capaz de entusiasmar sem forçar na aceleração ao carregar peado no ritmo frenético. É a pura demonstração de uma banda que sabe o que fazer com a própria criatividade, e a segunda faixa, a maravilhosa Human (My sign is vital/ My hand are cold/ And I’m on my knees/ Looking for the answers/ Are we human?/ Or are we dancers?) versa sobre tudo que há de mais lindo e mais angustiante em ser falho e ser humano de forma poética, carregada de metáfora inesquecíveis e sons artificiais usados com sabedoria impressionante por um produtor que parece estar mais inspirado pela criatividade explosiva da banda que tem nas mãos. Logo em seguida, Spaceman (The star man says it ain’t so bad/ The dream maker’s gonna make you mad/ The Spaceman says “Everybody look down!”/ It’s all in your mind), pura viagem musical com suas guitarras bem marcadas levando um refrão perfeito para qualquer um soltar a voz e entoando palavras que podem não fazer sentido em uma interpretação simples, mas tem todoum significado especial no momento e no calor de uma compreensão quase instintiva. Já que citar todas as faixas especiais de um álbum tão pulsante seria impossível e talvez até enfadonho, não custa nada dizer rapidamente que temos um balanço inesperado na poética sem ser chata Joyride (When your hopes and dreams lose the will to go/ Joyride/ Reaching for the light/ Knowing we can’t win), levada toda por dedilhadas quebradas e um vocal carregado de ecos que só dão mais força para uma letra bem construída. Por fim, também é impossível deixar de citar o “conto de fadas da terra empoeirada” que o Killers nos faz questão de contar em Dustland Fairytale (Out here the dreams all hide/ Out here the wind don’t blow/ Out here the good girls die/ And the sky moves slow), uma combinação mais do que perfeira de ritmo levado todo pelo piano bem marcado e o peso de uma guitarra dando punch a um refrão que não é verdadeiramente um refrão e ainda assim marca na memória mais do que tantos outros por aí.

 

Depois de outras seis inesquecíveis músicas, é impossível não notar o quanto o tempo, esse inexorável inimigo que parece parar para ouvir a criatividade de uma banda que está indiscutivelmente, independente de críticas ou de vendas, a se tornar a maior, e a melhor, do mundo. Se Brandon Flowers quer nos conquistar para nos tratar como apenas mais um em uma multidão arrebanhada por música nova, pulsante e cheia de personalidade, o que nos restra senão aplaudir? Que o tempo continue fazendo bem, e muito bem, aos humanos dançarinos do Killers e que eles continuem a nos fazer descobrir quem somos nós de verdade, ou pelo menos nos ajude a perguntar isso a nós mesmos. Para assassinos que tocam e cantam, até que eles tem ajudado muitas vidas e merecerem esse nome.

 

Link para Download - Sam's Town - Mininova.org

Link para Download - Day & Age - Mininova.org

 

3 comentários:

Querido amigo avassalador...
Voce merece aplausos pela pesquisa apurada sobre a banda... a proposta geral do blog está fantastica!
Sucesso pra vc!

Essa banda é simplesmente fantástica, está predestinada a ser grande, e está perto de alcançar essse objetivo.

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